Meta Cookie: Alterando a realidade (G1)
O projeto Meta Cookie, criado pelo japonês Tajuki Narumi, da Universidade de Tóquio, é uma prova real de que o ser humano já possui a capacidade de mudar a realidade com a utilização da tecnologia. Aliado a um visor de realidade aumentada e dispositivos que exalam cheiros, o Meta Cookie consiste em um simples biscoito adocicado que, gravado com um AR Marker (marcador de realidade aumentada), possibilita que o usuário possa ver diferentes tipos de texturas e cores no biscoito, simulando a aparência que o mesmo teria se fosse de tal sabor. Ou seja, se o usuário escolhe a opção de comer um biscoito sabor morango, ele verá uma representação daquilo, com a cor rosada e o cheiro da fruta sendo expelido pelo dispositivo.
O objetivo fundamental do projeto é o de “enganar os sentidos” e possibilitar que tenhamos a experiência de trocar o sabor do biscoito instantaneamente. É, de fato, uma integração de tecnologias bem sucedida, que consegue cumprir a sua função básica. Entretanto, o motivo pelo qual foi inventada faz sentido? Se pensarmos de forma prática, não seria mais fácil comprar pacotes de biscoito com sabores variados ao invés de colocar na cabeça um aparelho com diversos mecanismos só para simular essa experiência? Considero como a resposta mais plausível a necessidade do ser humano de ter o controle na palma das mãos. A medida em que aperfeiçoamos e criamos novas tecnologias, chegamos cada vez mais perto do controle absoluto sobre tudo à nossa volta.
Como o mecanismo funciona? As especificações técnicas são um tanto vagas, porém sabe-se que é um sistema que afeta a visão, o olfato e o paladar e utiliza a tecnologia do AR Marker para detectar o biscoito e calcular o seu 6DoF (“Six degrees of freedom”, que se refere a liberdade de movimento de um corpo rígido em um espaço tridimensional), que permite ao usuário mudar de posição, como ir para frente e para trás, para cima e para baixo, também medindo a distância entre o biscoito e o nariz da pessoa. O AR Marker (a marca que é impressa no biscoito) é reconhecida e a imagem da aparência que o biscoito deve ter a substitui, a partir da posição informada pela utilização do ARToolkit (uma biblioteca open source, que permite o desenvolvimento de interfaces para realidade aumentada).
Por mais promissor que pareça o futuro deste projeto, o Meta Cookie ainda necessita de ajustes para que seu desempenho não seja comprometido. Uma falha facilmente identificável no aparelho, que pode ser vista neste vídeo, é a do reconhecimento do AR Marker no biscoito. As imagens que simulam diferentes texturas e cores, não ficam permanentemente sobrepostas no alimento e revelam a verdadeira identidade do mesmo, prejudicando a imersão do usuário na experiência.
Além deste fato, o aparato que deve ser colocado na cabeça da pessoa ainda precisa passar por um processo de refinamento, já que consiste em um aparelho tão grande quanto um capacete. É possível que, no futuro, este aparelho seja apenas um óculos simples com pequenos mecanismos acoplados nele que bombeiam os diferentes cheiros, por exemplo. Os bombeadores de cheiros poderiam até ser cápsulas com diversos sabores diferentes, possivelmente removíveis, para que o usuário possa misturar cheiros, ampliar as possibilidades da experiência e, ao invés de apenas 7 sabores, que são as opções do Meta Cookie, poderiam ser milhares, não apenas doces, mas também salgados, amargos e azedos.
O Meta Cookie é apenas uma das diversas possibilidades que podemos alcançar. E se, por exemplo, ao invés de um simples biscoito, pudéssemos ter outros tipos de alimentos, como tortas e pizzas? As combinações de cheiros e, consequentemente, gostos, seria infinita. Se trata de uma experiência que mexe com os sentidos tão intensamente que pode, até, aguçá-los ainda mais. A mesma capacidade que o aparelho tem de exalar o cheiro simulando os sabores, pode também permitir intensificá-los, tornando o alimento ainda mais “saboroso”.
Outra possibilidade que o Meta Cookie poderia oferecer é a de auxiliar na ingestão de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do corpo. Muitas vezes é necessário que certas vitaminas e outros elementos sejam consumidos, porém existem situações em que o alimento que os contém não é dos mais apetitosos. A tecnologia do Meta Cookie poderia ajudar a "camuflar" ou mudar o sabor daquele alimento, permitindo que quem o consumisse sentisse prazer e não obrigação de ingerí-lo.
Enfim, mesmo sendo o Meta Cookie uma tecnologia ainda pouco explorada, acredito que este projeto genial tem grande potencial para evoluir no futuro, dando fim à monotonia alimentar e expandindo nossas experiências gustativas, olfativas e visuais.